Durante um passeio em suas redes sociais você se depara com inúmeros anúncios que se encaixam perfeitamente no seu estilo de vida, com seus valores, suas necessidades. O que está por trás disso?
Recentemente a Netflix produziu a série Black Mirror, que foi bem aceita pelo público, trazendo para a reflexão a questão do limite entre as pessoas e sua relação com o desenfreado avanço científico-tecnológico, que serve como comparação para o momento que a internet vive hoje.
Com a tecnologia, principalmente a que promove interação, as pessoas passaram a criar um vínculo intenso com as redes, principalmente graças ao smartphone. Corporações e empresas perceberam essa relação e isso trouxe um mar de oportunidades para se ganhar dinheiro, ou seja, a possibilidade de ampliar a relação com os usuários oferecendo conteúdo “útil e relevante”. Segundo Fernández (2018, online), “a tecnologia tornou o consumidor mais conectado e também mais volátil diante do forte bombardeio de informações e ofertas. Com isso, nada mais no processo de entendimento do consumidor ou no método de compra pode ser tradicional, incluindo o clássico ponto de venda”.
Esse mar azul fez com que o marketing tivesse que criar novos métodos para atingir as pessoas e alavancar a relação delas com as marcas. Percebe-se também a evolução dessas estratégias, que começaram por volta da década de 90, com a popularização do uso do MSN e e-mail, o marketing percebeu então essa característica no comportamento do consumidor e se adaptou a esse mercado, ao comportamento do consumidor e evoluiu construindo estratégias mais eficazes.
Os usuários se tornaram mais exigentes, com um perfil multiplataformas, ou seja, eles buscam informações tanto virtualmente quanto fisicamente, além de buscar opiniões com pessoas que os influenciam, o marketing novamente percebeu e se adaptou ao mercado, trazendo estratégias tanto nos pontos de venda como na rede, com campanhas mais persuasivas e usando pessoas com popularidade, como os youtubers, instagramers.
Esses anuncios que aparecem de forma “mágica”, fazem parte dessas estratégias que visam proporcionar uma melhor experiência do usuário com a rede, mapeando seu comportamento por meio de coleta dos dados que o próprio usuário deixa por onde passa - seus rastros, seus cliques.
O resultado disso? Campanhas personalizadas e mais persuasivas graças às informações que se adaptam perfeitamente às necessidades do consumidor.
E é aí onde nasce o problema. Qual o limite para essa coleta de dados? Eis a pergunta que paira nessa nova fase da internet.
Recentemente essa questão entrou em cena com o caso Zuckerberg, onde o Facebook foi acusada de uso indevido desses dados junto a Cambridge Analytica, que trabalhou para campanha de Trump, e é acusada de ter usado esses dados para influenciar os eleitores americanos.
Uma expressão usada para assuntos e acontecimentos que parecem estar longe da realidade (mas estão mais próximos do que se parece), é conhecida como “isso é muito black mirror”, e cabe perfeitamente no momento atual da relação do ser humano com a internet. O futuro que vê-se na “ficção” já está acontecendo (é a vida imitando a arte ou a arte imitando a vida? Eis a questão).
Resumindo, a rede se tornou um lugar onde nada é por acaso e tudo o que você faz está sendo observado e analisado, de forma a descobrir suas tendências de comportamento para saber como lhe persuadir de forma assertiva. Não é um espaço democrático, muito pelo contrário, é um espaço dominado pelo capitalismo informacional (e que está nas mãos de poucos), com estratégias para vender ao usuário parecendo que tudo é entretenimento, e pior, por meio das análises vão se criando “bolhas” de informação, fazendo com que as pessoas sempre recebam o mesmo tipo de conteúdo, ou seja, num espaço em que é possível encontrar uma diversidade de coisas, múltiplos pensamentos e ações o usuário não sai da mesmice.
Umas das críticas da Escola de Frankfurt aos meios de comunicação era a alienação, mas e agora, será que estamos mais alienados que antes, consumindo mais do mesmo? Estamos produzindo a nossa própria alienação na “bolha black mirror”?
Texto: Ana Carolina Gomes Paiva.
Referências
BRAGATTO, Rachel Callai. Democracia e internet: apontamentos para a sistematização dos estudos da área. REVISTA COMPOLÍTICA. Disponível em: <https://search.proquest.com/openview/759ec8796509910760aed7ede9d9d784/1?pq-origsite=gscholar&cbl=2026684>.
DIAS, Tatiana. O algoritmo é mais embaixo. TAB UOL. Disponível em: <https://tab.uol.com.br/crise-facebook/#o-algoritmo-e-mais-embaixo>.
FERNÁNDEZ, Alisson . Celular é peça fundamental na era de consumidores conectados. PROPMARK. Disponível em:
LONGO, Ivan. Black Mirror: uma crítica que não serve pra nada. REVISTA FÓRUM. Acesso em: Disponível em:
MARTÍNEZ, Jan . Vendaval Cambridge Analytica abala os EUA por fraudes com dados do Facebook. EL PAÍS. Disponível em:
MODESTO, Elen. Mudança de jogo no uso de dados. Você está preparado? PROPMARK. Disponível em:
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