19 de outubro: Dia Nacional da Inovação. E o que eu, publicitário, tenho a ver com isso?
Apesar de estarmos vinte e quatro horas imersos em um mundo permeado por inovações de diferentes naturezas, muitas vezes, não paramos para refletir de forma um pouco mais aprofundada sobre elas. Sabemos, de uma forma quase automática, que teríamos grande dificuldade em manter nossa rotina sem elas (o recente “apagão” tecnológico do Facebook, em que serviços como WhatsApp, Instagram e Facebook ficaram fora do ar para bilhões de pessoas durante algumas horas em nível global, é um exemplo disso).
Contudo, apesar dos grandes transtornos gerados por esse evento no Brasil (estima-se que WhatsApp esteja presente em mais de 90% dos celulares dos brasileiros), esse acontecimento nos instiga a refletir não apenas sobre as questões éticas e os limites que grandes corporações de tecnologia têm/deveriam ter, mas, também, sobre uma outra questão fundamental: Qual é o nosso papel, enquanto brasileiros, nessa dinâmica de inovação? Ou ainda, como provoca o título deste texto: O que eu, publicitário, tenho a ver com tudo isso?
Em termos globais, o Brasil figura na incômoda 57ª posição no ranking das economias mais inovadoras do mundo, divulgado anualmente pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), mesmo tendo o 12º maior PIB mundial. Disso resulta uma clara assimetria: Não estamos olhando para o futuro do Brasil com o cuidado que deveríamos, a exemplo do que fizeram a Coreia do Sul e a China nas últimas décadas (a figura abaixo ajuda a ilustrar o que digo).
Movimentação do ranking de inovação doa países nos últimos 5 anos (2017 – 2021)
Fonte: Global Innovation Index Database (WIPO, 2021)
Especificamente no âmbito da publicidade, a inovação se relaciona diretamente com dois aspectos-chave.
O primeiro deles diz respeito à responsabilidade irrenunciável que o profissional de comunicação publicitária deve ter ao planejar, discutir, conceber e executar campanhas em um mundo onde a publicidade se vê cada vez mais descaracterizada como tal. Ou seja, em seu desafio historicamente inerente pela busca de soluções inovadoras na forma de comunicar, o(a) profissional de comunicação tem um papel fundamental na sociedade, pois é partir das mãos deles que dezenas de milhões de pessoas descobrem, aprendem, exploram e sentem marcas, produtos e serviços inovadores. Todos eles em uma representação de sociedade dada pela perspectiva dele(a). Isso pode gerar diversidade, informação e encanto, mas também pode resultar em exclusão, restrição e boicote.
O segundo aspecto trata das oportunidades ligas aos processos publicitários em si. A área tem adquirido uma complexidade jamais vista, tendo necessariamente que buscar soluções que passam por inovações. Isso gera oportunidades para o(a) publicitário(a) pensar tanto em novos suportes/mídias comunicacionais (e quando digo pensar, me refiro a ele próprio passar a considerar como alternativa profissional, identificar, criar e comercializar uma nova invenção para o mercado), como em propor inovações em processos de criação em agência e avaliação de campanhas e, neste aspecto, há um mundo a ser explorado.
O ponto de partida? Olhar para tudo com a capacidade de fazer perguntas e buscar soluções e parcerias. Afinal, inovação tem muito mais a ver com a sua capacidade de fazer perguntas que levem à experimentação e à incerteza do que com a de gerar respostas definitivas e limitadoras do pensamento humano.
Diogo Kawano
Coordenador do Escritório Local de Inovação e Transferência de Tecnologia do IFSULDEMINAS - ELITT campus Passos e professor do curso de Produção Publicitária na mesma instituição. Coordenador do Laboratório de Tecnologias em Comunicação e Neurociência Aplicada – LTC&Na do IFSULDEMINAS e membro do Laboratório 4C – Centro de Comunicação e Ciências Cognitivas da USP.
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