A concepção de anúncios publicitários contidos nas mais diversas plataformas de games não é algo novo, e é de extrema importância para empresas que buscam o engajamento de potenciais consumidores com sua marca. Nesse contexto, a publicidade se modificou ao longo do tempo e do espaço, estabelecendo-se hoje com uma forte relação às mais variadas ferramentas da área da comunicação, essencialmente se tornando algo presente e impactante na vida das pessoas. Com isso, além de estarem presentes em jogos virtuais, gigantes da tecnologia - como Google e Facebook - encontram no tráfego de grandes sites uma forma rápida e eficaz de gerar receita, divergindo da publicidade convencional que era até então praticada. Desse jeito, meu (minha) caro (cara) leitor (leitora), vamos analisar as formas de publicidade com e nos jogos.
Advergames
Advergame é uma aglutinação das palavras advertise (propaganda) e game (jogo) que juntas definem as estratégias de marketing utilizadas dentro dos jogos. Essa estratégia é feita por meio de diversas formas com o intuito de promover uma chamada para ação da marca em que está sendo promovida. Sabe quando você está jogando um game de corrida e durante o caminho passa por placas de restaurantes conhecidos? Depois de jogar por um tempo, pode ser que você lembre do nome do restaurante ou até mesmo fique com vontade de pedir a refeição deste local. Bom, pode-se dizer então que você foi capturado por um advergame.
Ao contrário do que temos presenciado nos jogos voltados para dispositivos móveis, os quais utilizam um método cansativo e por vezes desinteressante com vídeos de no máximo 5 segundos para divulgar outras marcas, os advergames se fazem mais presentes em jogos para consoles e PCs, onde transpassam a mensagem para o jogador de maneira interativa e divertida, colocando o entretenimento como objetivo principal e não como resultado. Por exemplo, o jogo Chex Quest (1996) foi uma adaptação de Doom, (um jogo de tiro em primeira pessoa). A adaptação transitou de um game violento para uma gameplay mais voltada para o público infantil, com a proposta de divulgar o cereal Chex, que foi concluído com bastante êxito na época, tendo aumentado as vendas do cereal em até 200%.
O modo de criar e divulgar um advergame pode ser dividido em três tipos diferentes, o primeiro é caracterizado pela locação do game no site da empresa que quer ser divulgada, pois desta forma, o jogador passará o tempo inteiro sujeito às mensagens dessa companhia. Já a segunda categoria de advergame é carregada de significados semióticos, pois a principal mensagem da propaganda do jogo está em seu logotipo, design principal e até mesmo no desenvolvedor. Um jogo que exemplifica bem esta categoria é America's Army, um game desenvolvido pelo exército com intuito de recrutar pessoas para fazer parte dele.
Por fim, o terceiro e último tipo de advergame é o in-game advertising, este, assim como foi mencionado na introdução do tema, é caracterizado por promover propagandas da marca durante o jogo. O game Crazy Taxi de 1999 é um forte exemplo, pois em meio a uma corrida de carros o jogador se depara com uma placa do KFC. Outro exemplo que cabe mencionar aqui é o jogo Chester Cheetah, feito para promover os salgadinhos da empresa Elma Chips, e o mais interessante é que, em momento algum, os nomes dos salgadinhos ou empresa são mencionados, sendo que na realidade os personagens dos jogos são compostos pelos mascotes da própria marca. O jogo se parece muito com estilo Mário, já que foi desenvolvido para Super Nintendo. Dessa forma, observa-se que nos advergames as propagandas não aparecem de forma cansativa, mas sim como um objeto para complementar o jogo.
A geolocalização e o mercado internacional de games
Por outro lado, é interessante realizar uma análise rápida sobre os impactos que essas formas de publicidade alcançam quando falamos de mercado internacional. Tomemos como partida o sucesso do jogo conhecido como "Pokémon GO”, esse que conseguiu não somente alcançar recordes de usuários, mas também de receita para a empresa Niantic, Inc.
O jogo conseguiu integrar as mais variadas tecnologias, seja com o mundo físico ou com a publicidade, como: a utilização da câmera de seu celular, a sua localização, a integração com os objetos ao seu redor. Entretanto, o fato mais interessante dentro do jogo - do ponto de vista comercial - era a possibilidade de você poder comprar “totens” para que Pokémons surgissem no local determinado para serem capturados, o que fomentou os estabelecimentos comerciais - lanchonetes, supermercados, academias, padarias, refeitórios, lojas de roupas ou eletrodomésticos - a utilizar esse jogo, que era visto anteriormente como um simples joguinho, mas passou a ser uma ferramenta poderosa para atrair pessoas até os estabelecimentos comerciais.
Convenhamos, é uma forma genial para promover as marcas no atual contexto das tecnologias de comunicação e entretenimento. Esse engajamento é importante, pois segundo um levantamento da Newzoo, o mercado de jogos virtuais é um dos que mais crescem no mundo, principalmente em países populosos e emergentes, como Brasil, China e Índia, além do mais, essa é uma gigantesca alternativa de empresas que procuram expandir seus negócios e querem “fugir” do marketing tradicional e atingir um novo público de consumidores.
Essa possibilidade, aliada ao conceito de experiência do usuário, progressivamente propicia que os advergames tenham determinado um crescente impacto na vida do consumidor comum, o que torna a utilização do produto dinamicamente mais interessante e inovador.
“Depois da modernidade que controlou, manipulou e organizou o espaço físico, nos vemos diante de um processo de desmaterialização pós-moderna do mundo. O ciberespaço faz parte do processo de desmaterialização do espaço e de instantaneidade temporal contemporâneos, após dois séculos de industrialização moderna que insistiu na dominação física de energia e de matérias, e na compartimentalização do tempo. Se na modernidade o tempo era uma forma de esculpir o espaço, com a cibercultura contemporânea nós assistimos a um processo onde o tempo real vai aos poucos exterminando o espaço” (André Lemos 2014).
Mas e o Brasil? Além do já conhecido impacto da geolocalização do Pokémon Go, o país apresenta um enorme potencial no mercado da publicidade em jogos virtuais. No entanto, ainda possuímos um forte impacto de empresas transnacionais, as quais utilizam o imagético mundo virtual para vender produtos fora dele, a exemplo do que o jogo “FIFA” faz, simplificando a “paixão nacional” - o futebol - em uma mercadoria rentável.
Chegamos ao fim da nossa "trilogia" de textos sobre os games, se quiser ler o primeiro texto denominado Jogos e Comunicação clique aqui, e também para ler o texto anterior a este, clique aqui.
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