Dilema das Redes Netflix educação

Educação Midiática e a Democracia na Contemporaneidade

outubro 16, 2020PP Blog

Você provavelmente já ouviu falar sobre o conceito de educação, mas e de “Educação Midiática”? Bem, podemos te dizer que esse último conceito não é nada recente, muito pelo contrário, é algo discutido desde o século passado. 


Primeiramente, para entender Educação Midiática é necessário voltar ao ano de 1982, ano em que a UNESCO publicou a “Declaração de Grünwald” que consistia, em termos gerais, em reconhecer o poder da mídia e, sobretudo, seus impactos sobre a organização social. O documento destaca, por exemplo, o fato de uma criança passar mais tempo em frente a uma televisão do que na escola, indicando a necessidade de uma alfabetização para as mídias, ou seja, para saber como as mídias funcionam e como utilizá-las com criticidade. Nesse sentido, surge na contemporaneidade a discussão do que é, para que serve e a importância da educação midiática. Vamos por partes!
 
Educação Midiática 
 
É quase certo que você já escutou algum estudante reclamando sobre a escola, dizendo coisas como: Onde eu vou usar isso na vida? Eu realmente preciso saber disso? ou Por que é que eu preciso ir à escola?. Essas falas podem vir de um drama adolescente, mas seria realmente possível tantas pessoas não gostarem de um ambiente de estudo? É possível que um raio caia duas vezes no mesmo lugar?

Fonte: http://blogdoeliomar.com.br/ (2019).

A educação tradicional é criticada por muitos estudiosos, não apenas por ter o mesmo método de centenas de anos atrás, mas também por não estar cumprindo seu papel de alfabetização, ou seja, é certeiro dizer que o tipo de escola que estamos acostumados não está adaptado da melhor forma para nossa sociedade. E isso não é culpa da falta de pesquisa, pois há inúmeros artigos e comentários sobre meios de alfabetizar de forma mais clara e efetiva, como os métodos de Paulo Freire, no Brasil, o STEM, nos EUA, entre outros. Porém, é preciso ir além de artigos, teses ou comprovações, é necessário poder político, políticas públicas e engajamento social para que mudanças aconteçam.
Nessa perspectiva, percebemos que a escola não está conseguindo executar o seu objetivo: formar o cidadão na totalidade de seu ser, e isso se deve não apenas às reclamações de quem experimentou a escola do passado, mas também da própria modernidade e as mudanças tecnológicas que estão acontecendo.

Assim, a educação midiática surge como uma proposta de compreender melhor as tecnologias da informação e da comunicação (TIC), ensinando como utilizar e lidar com a tecnologia, principalmente com os meios de comunicação mais atuais, como redes sociais. Esse conhecimento, no entanto, deve ressignificar o discernimento da informação, evitando inúmeros problemas causados pela infinitude da internet, de outros meios de comunicação e ajudando a lidar melhor com nosso “cérebro primitivo”.


De maneira geral, a educação midiática pretende ser o elo para que educação e sociedade caminhem juntas e que a escola ensine com o mundo e não para o mundo. A construção coletiva e o uso integrado das múltiplas linguagens gerariam conhecimentos socialmente relevantes e reconheceriam alunos e professores como sujeitos ativos desta construção.


Mas a nossa realidade revela a ausência de uma educação formal a respeito da alfabetização midiática, partindo da própria formação de professores e passando pelas instituições públicas e privadas, o que resvala na atualidade como uma ameaça, pois não se trata de saber utilizar ferramentas e aplicativos, mas compreender como a rede funciona, como seus algoritmos são programados, como isso interfere no nosso pensamento, nos nossos modos de agir, de compartilhar, de consumir e até no sistema político democrático. Nesse contexto, com o fortalecimento de um ambiente virtual, programado, o debate de ideias foi sendo sufocado, dando espaço para o surgimento da bipolarização de toda ordem, de uns contra os outros, motivados pelo ódio e pelo monólogo ao invés do diálogo, pois ambos os grupos conectados em rede vivem em “bolhas” informacionais. E isso afetou, inclusive, a política e, consequentemente, empresas da área da tecnologia aproveitaram de tal fato para promoverem, progressivamente, as suas marcas, como o documentário “O Dilema das Redes” nos explica.


O Dilema das Redes


O Dilema das Redes é um polêmico documentário lançado este ­­ano pela plataforma de streaming Netflix. O filme tem repercutido bastante pelo fato de abordar a forma como as redes sociais podem ser danosas à sociedade e, até mesmo, uma ameaça à democracia. Com pouco mais de uma hora e trinta minutos, o documentário utiliza entrevistas de diretores, criadores e demais pessoas engajadas na criação de redes sociais como Facebook, Instagram, Pinterest, Twitter e Linkedin, para responderem uma única pergunta: Qual o problema da indústria da tecnologia? Dentre diversas respostas estão: vício, roubo de dados, fake news e influência política.


Fonte: Revista Fórum (2020).

No início, usuários da web são chamados de produto e como justificativa está a ideia de que é gratuito acessar as redes sociais, a não ser que o internauta tenha como objetivo fazer um anúncio. Desse modo, o anunciante paga para que seu conteúdo tenha maior alcance e chegue nas pessoas, tornando-as em produto. Segundo Jaron Lanier, autor do livro Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais (e que também aparece no documentário), a discussão de produto vai além da troca de anúncio. Para ele, o problema está na mudança de comportamento. Como assim? A pesquisadora Shoshana Zuboff, apresenta em seu livro o termo capitalismo de vigilância (que é título da obra), que pode ser definido como um modelo de negócios, o qual se baseia na captura de informações de usuários - sejam elas com ou sem autorização – para que seja possível prever o próximo passo do usuário. Essa previsão é feita a partir da construção de um perfil ideal que compila todas as preferências colhidas naquela captura de dados mencionada anteriormente. O termo capitalismo surge dessa troca de dados por dinheiro, pois quanto mais a empresa entender sobre o perfil de quem ela está vendendo, melhor será para se anunciar. O que ambos autores querem dizer é que a intenção das redes sociais é catalogar todos os passos, cliques, rastros deixados na web com o objetivo de infiltrar-se na “mente” das pessoas. Logo, as redes sociais não são meras ferramentas de contato social, elas possuem os objetivos do capitalismo e chegam até os usuários utilizando diversas estratégias, inclusive do inconsciente humano.


Nesse contexto, o documentário traz dois termos, um do campo da Psicologia e o outro do Marketing, sendo o primeiro Reforço Intermitente Positivo cuja característica é quando as pessoas deslizam o dedo na tela em busca de cada vez mais informações e nunca estão satisfeitas ou quando alguém fica de 5 em 5 minutos conferindo o celular para ver se há alguma notificação. E o segundo, Hacking de Crescimento, onde as pessoas se tornam cobaias das propagandas ao passarem por diversos experimentos, mas não possuem consciência disso. Esse último está associado diretamente com o filme Matrix (1999), o qual os indivíduos vivem em uma realidade projetada em sua mente, mas que na verdade seus corpos são utilizados como fonte de energia para as máquinas. Nesse caso, os dados das pessoas são a bateria e a engrenagem.


Portanto, respondendo à pergunta do documentário, o problema da indústria da tecnologia se resume em uma única palavra: controle. Assim como a citação do filme O Show de Truman (1988), aceitamos a realidade de mundo a qual somos apresentados, tudo o que vemos é controlado e isso faz com que cada dia as pessoas fiquem presas em uma bolha social e não aceitam opiniões divergentes das suas. Hoje, vemos amizades sendo desfeitas porque não votaram no mesmo candidato à presidência e vemos pessoas morrendo por falta de informação, vivemos em uma era em que notícias falsas são 70% mais compartilhadas do que as verdadeiras de acordo com o site da Revista Galileu. Por isso fica o questionamento: você considera isso democrático?


Autores: Bruno Alves de Oliveira Fernandes, Cindi Santos Nascimento e Ingrid de Andrade Rolim (alunos do 2º ano do curso técnico em Comunicação Visual integrado ao Ensino Médio).


REFERÊNCIAS:

NETFLIX. O Dilema das Redes. Disponível em: https://www.netflix.com/watch/81254224?trackId=13752289&tctx=0%2C0%2C606d4ca9d24645c5a0f4bbee6f92bac56ff93f7a%3A8f7a9ddbbb2b3a1803d8219f2f8f3a631261dc42%2C606d4ca9d24645c5a0f4bbee6f92bac56ff93f7a%3A8f7a9ddbbb2b3a1803d8219f2f8f3a631261dc42%2Cunknown%2C . Acesso em: 06 out. 2020.

 

VERBETE DRAFT. O que é capitalismo de vigilância? Disponível em: https://www.projetodraft.com/verbete-draft-o-que-e-capitalismo-de-vigilancia/. Acesso em: 07 out. 2020.

 

REVISTA GALILEU. Notícias falsas são 70% mais compartilhadas do que verdadeiras. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/03/noticias-falsas-sao-70-mais-compartilhadas-do-que-verdadeiras.html. Acesso em: 07 out. 2020.

 

O‘BRIEN, Ceara. Do You Have a Caveman‘s Brain?. In: O'BRIEN, Ceara. Do You Have a Caveman's Brain?. ASU - Ask A Biologist: Arizona State University School of Life Sciences Ask A Biologist, 31 out. 2011. Disponível em: https://askabiologist.asu.edu/plosable/do-you-have-cavemans-brain. Acesso em: 10 out. 2020.

 

TONET, Elaine Regina Costa. A globalização e a influência da mídia na sociedade. In: Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE: produções didático-pedagógicas. Versão On-line. ISBN 978-85-8015-079-7 Cadernos PDE, Vol. II. Disponível em:<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2014/2014_uenp_geo_pdp_elaine_regina_costa.pdf>. Acesso em: 07 out. 2020.

 

MOREIRA, Alberto da Silva. Cultura midiática e educação infantil. Disponível em:<https://www.scielo.br/pdf/es/v24n85/a06v2485.pdf>. Acesso em: 07 out. 2020.

 

Semelhantes

Comentários

Popular Posts

Formulário de contato

Antes de sair gostaria de assinar nosso feed?

gratuito

atualizado

sem spam