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A cor como mensagem emocional

setembro 13, 2017PP Blog

E se o mar fosse cinza, o fogo cinza, e a pele cinza? A cor não é só questão de estética, a cor tem o dom de comunicar e transmitir sensações e emoções.
Guimarães (2003) em seu livro As cores na mídia: a organização da cor-informação no jornalismo nos diz que a cor é entendida como informação em todo momento que é usada, desempenhando uma função responsável por colocar em ordem, organizando e hierarquizando informações ou atribuindo um significado. Dessa forma, vemos a amplitude de possibilidades do uso da cor, que são aplicadas de acordo com a intenção que se pretende com o telespectador. É quase impossível de se imaginar no mundo de hoje desenhos, filmes e até mesmo propagandas sem o uso de cores. Farina (2011) em Psicodinâmica das cores em comunicação afirma que o ser humano reage à cor submisso às condições físicas e às influências culturais, ou seja, para a cor ser recebida como informação, é necessário entender o público com que se objetiva comunicar, pois as características culturais influenciam de forma contundente nas nossas percepções: o azul que inspira calma e paz em certas regiões, em outros lugares representa luto.
Se dirigindo para o campo prático, a aplicação das cores ligadas às emoções nos desenhos animados tem sido uma das grandes apostas no ramo, exemplos disso são as animações “Steven Universo” (Cartoon network), “Gravity Falls” (Disney) e “A lenda de Korra” (Nickelodeon) - os canais em questão vem apostando forte em um bom uso da paleta de cores, ao perceber que isso influencia a experiência do telespectador e, por isso, a cor começou a ser explorada cada vez mais.
O médico fisiologista Arthur Clifton Guyton (1993 apud GUIMARÃES, 2004) nos apresenta sua visão do ciclo de entendimento da cor, em que os tons são inicialmente detectados por meio dos contrastes de cores. Sendo assim, ocorre um processamento seriado desde as células simples às mais complexas. Toda essa informação fisiológica se liga ao nosso conhecimento do dia a dia e dá significação às cores que percebemos. Como exemplo temos a cena do desenho Steven Universo (episódio “Bismuto”) criado por Rebecca Sugar. Na cena (Imagem 1) vemos o uso, quase em totalidade, de cores quentes nos tons de vermelho - a tonalidade em questão foi usada para passar a tensão e o perigo vivenciado pela personagem. Max Lüscher (1980, apud FARINA; PEREZ; BASTOS, 2011), psicólogo suíço e consultor empresarial de cores, na obra O teste das cores afirma que por meio de experiências o vermelho puro tem provado ser excitante. Segundo ele, quando um indivíduo é submetido a um vermelho puro por um determinado tempo, há uma estimulação em todo o sistema nervoso, nota-se também uma elevação da pressão arterial e uma alteração no ritmo cardíaco.

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Imagem 1: Steven Universo, episódio Bismuto.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=1b5DGnv8mzs
Paleta de cores: Samuel Araújo

O psicólogo também diz que trocando o vermelho por um azul puro o efeito é contrário, o ritmo cardíaco e a respiração diminuem. Esse contraponto pode ser analisado na imagem do episódio “A resposta” também de Steven Universo (Imagem 2).


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Imagem 2: Steven universo, episódio A resposta.
Fonte: https://www.themarysue.com/steven-universe-recap-the-answer/
Paleta de cores: Samuel Araújo


Ao contrário do exemplo de “Bismuto”, em “A resposta” a tonalidade da cena puxa para os tons azulados, que condiz com o discurso de paz e aceitação que a produção do desenho almeja. Ainda sobre esse episódio, é possível ver o uso de tons pastéis (Imagem 3) como forma de suavizar a situação de guerra em que as personagens se encontram, focando nelas como indivíduos diferentes e importantes.


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Imagem 3: Steven Universo, episódio A resposta.
Fonte: https://poetofthepiano.tumblr.com/post/157694553336/gem-class-analysis-pe arls
Paleta de cores: Samuel Araújo


Ao analisarmos detalhadamente tudo ao nosso derredor, é possível começar a enxergar os nuances e tonalidades que nos cercam. As cores estão a todo o momento nos induzindo a sentimentos e sensações, como o vermelho em uma placa de perigo. Esse raciocínio torna-se ainda mais singular e coerente quando reparamos que todo esse efeito das cores parte de razões psicológicas, que vem de muito antes dos tempos atuais, pois parte de construções simbólicas e culturais.
Assim, “se abrirmos conscientemente os olhos ao mundo que nos rodeia, veremos que vivemos mergulhados num cromatismo intenso e o homem moderno, ao lado de arquiteturas de concreto e de aço cinzento, não consegue separar-se dele porque nele vive, por ele sente satisfação e amor” (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2011, p.01).

Texto: Samuel Araújo Couto
Referências:

GUIMARÃES, Luciano. As cores na mídia: a organização da cor-informação no jornalismo. São Paulo: Annablume, 2003.

FARINA, Modesto; PEREZ, Clotilde; BASTOS, Dorinho. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Edgard Blücher, 2011.

FRASER, Tom; BANKS, Adam. Tradução de Renata Bottini. O guia completo da cor: livro essencial. São Paulo: Senac São Paulo, 2013.

PERLATO, Vinicius. Conheça o universo de Steven Universe. Disponível em .Acesso em 09 set. 2017.

PEDROSA, Israel. Da cor à cor inexistente. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2014.

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