A Cultura Pop é Minha e Ninguém Mexe
novembro 08, 2018PP BlogSer nerd não te faz mais inteligente.
Hermione do Harry Potter, pode ser uma personagem negra.
Cibercultura Africana.
Novo Thundercats pode ter mais sucesso que o antigo.
Os Caça fantasmas somente com atrizes.
Se alguma das frases acima te incomodou, precisamos conversar sobre como os fãs tóxicos estão estragando a cultura pop e suas adaptações.
Os anos de 2017 e 2018 vem sendo marcados pela geração de opiniões extremas: a geração do eu. A minha opinião é melhor, a minha opinião é única e todos os outros estão errados. E além disso, priva uma discussão evolutiva, estraga relacionamentos e dissemina muito ódio, principalmente na internet. Existe um lugar onde podemos observar esse aspecto de forma bem enraizada: o “Mundo Nerd”.
Hoje em dia ser Nerd é conhecer os mínimos detalhes de um filme, série ou música. Saber qual a origem verdadeira daquele herói nos quadrinhos, ou o momento exato que deu inspiração para alguma música dos Beatles, passa a ser um fator positivo numa roda de conversa com os amigos. O que acontece, é que esse consumo de informações mínimas a respeito de um tema específico e a não aceitação do novo, vem causando problemas no convívio social.
Até que ponto saber mais sobre uma determinada história te faz dono daquele objeto cultural? Saber como foi produzido o filme Star Wars, ou em quem foi inspirado os personagens, não fazem você dono da verdade em fórum de discussões sobre a adaptação de um livro ou alguma história em quadrinhos. Ser admirador e conhecedor da cultura pop, não faz você mais inteligente que os que conhecem apenas superficialmente.
Em 2016 tivemos um ataque de fúria de fãs à peça de teatro em Londres, intitulada de "Harry Potter and the Cursed Child" ("Harry Potter e a criança amaldiçoada”). A peça, teve uma atriz negra no papel da Hermione. Houve uma não aceitação dos leitores mais antigos da história com a mudança da personagem que Emma Watson representou no cinema. O que se torna peculiar, pois a autora do livro, J.K. Rowling, não descreve em nenhum momento características físicas de seus personagens no livro. O que acontece é que os leitores antigos não estão dispostos a aceitar mudanças e novos conceitos aplicados a histórias. Não se pode mexer no que já foi feito uma vez e qualquer adaptação é recriminada e alvo de críticas pelo montante. Isso, aliado a discursos de ódio que estão presentes nessa cultura.
Outro episódio que causou impacto foi a produção do filme “Caça Fantasmas (2016)”. Ao substituir os 4 atores dos primeiros filmes por 4 mulheres causou uma verdadeira derradeira para o filme. Além do fracasso de bilheteria, a fúria da internet atingiu a atriz Melissa McCarthy, que teve que abandonar seus canais nas mídias sociais por conta do ataque pessoal. E, mais uma vez, um fato interessante sobre a produção do filme, é que os diretores e co-produtores eram os antigos atores do filme, com a mesma equipe. O que mostra que a mudança foi apenas uma escolha de gênero e uma adaptação na criação de algo novo.
Agora recentemente, a Cartoon Network anunciou uma adaptação da série do desenho Thundercats dos anos 80, que gerou mais uma vez desconforto e revolta dos fãs mais antigos por mudar os traços do desenho para uma versão mais infantil. O que acontece é que, a julgar dos comentários, a nova versão será “ridícula” e estaria “estragando” a visão do antigo desenho. Aí entra outra questão, essa história nova, contada para novos públicos muda alguma coisa do que foi produzido no passado? Ou é apenas uma questão de apropriação cultural e achismo de que o que já foi contado é uma certeza absoluta?
Texto: Eduardo Firmino.
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