Reprodução Netflix
A cinebiografia lançada no último dia 15 de março de 2021 na Netflix tematiza em linhas gerais a vida de Marie Curie, cientista que enfrentou dificuldades no reconhecimento de seu trabalho, bem como de se consagrar no universo científico marcado, majoritariamente, pela presença masculina. A obra, lançada anteriormente em 2019, ganha destaque nesta semana pelo seu lançamento e alcance mundial pela plataforma Netflix, que trouxe à tona a importância de se resgatar o passado de Marie Curie, o qual é de extrema relevância à humanidade. Pois bem, aqui será tematizado alguns pontos acerca da obra, mas também de seu papel com a veracidade dos fatos: será que esse filme está mais próximo da realidade ou da ficção?
Marie Curie, nascida em 1867 na Polônia, foi um dos maiores nomes da história da ciência moderna, a qual teve a sua contribuição, principalmente, na descoberta de dois elementos químicos: o polônio e o rádio. O filme conta a história a partir de sua mudança para a França, adotando o nome de Marie e se casando com Pierre Curie. Nesse sentido, a narrativa de ‘Radioactive’, com um acentuado tom artístico e ficcional, conta essas descobertas, a sua inserção no mundo científico, a dificuldade de conciliar sua vida profissional com a particular e o seu relacionamento com Pierre Curie. Iniciando-se com a protagonista revisitando o seu passado, em que, a partir daí, o telespectador é levado a entender alguns dos fatos de sua vida. Entretanto, essa narrativa, inicialmente a quem assiste, parece um pouco confusa e caótica, devido ao fato de que tais acontecimentos são trazidos à tona de uma forma superficial, genérica e rápida, ocasionando uma euforia de sentimentos.
A postura um pouco arrogante com que a atriz assume na trama é uma resposta para a sociedade francesa e científica da época, que não conseguia aceitar seu trabalho, a sua vida pessoal e, principalmente, o fato de ser de outra nacionalidade. Mesmo com isso, o roteiro deixa lacunas na vida dela, impondo, novamente, o recurso superficial nos fatos apresentados ao longo do filme, mas sempre colocando ênfase e compensando essas rupturas cronológicas com a iluminação, figurino, fotografia e na trilha sonora. Com isso, surge o grande problema do filme: tentar condensar uma enorme carga de informações em um curto espaço de tempo, o que ocasiona para a obra um desfoque das contribuições que Marie Curie proporcionou ao mundo e à ciência. Isso pode ser percebido não só pela rapidez com que a trama se desenvolve, mas também com os simples exemplos que o roteiro aborda a respeito dos malefícios e benefícios que a descoberta dos elementos químicos trouxeram para a humanidade.
Esse ritmo caótico, sobretudo, deixa questionamentos ao telespectador se o filme procurava apresentar com ênfase a vida pessoal, profissional ou até mesmo as duas de Marie Curie, fomentando um certo sentimento de não compressão dos fatos ou até mesmo de frustração, haja vista que quem assiste não tem uma boa noção dos eventos e conquistas que acontecem na vida da personagem principal.
Essa cinebiografia, pecando no roteiro conturbado e sem qualquer objetivo direto, é alavancada com o destaque dos personagens carismáticos, principalmente Rosamund Pike, que interpreta de forma impecável Marie Curie, uma mulher firme e totalmente bem representada em seus níveis sentimentais e corporais, na qual muitas das vezes é impulsionada a ser arrogante devido às diversas circunstâncias exteriores que a rodeiam, tais como as relações profissionais.
Mesmo com esses acontecimentos corriqueiros e caóticos, apenas a relação de Marie e Pierre Curie consegue tomar forma ao longo do roteiro, pois o relacionamento que é mostrado desde o início até o fim da obra, é nutrido por uma comédia romântica que não se encaixa no perfil com o qual o filme se compromete a apresentar ao telespectador.
CenaPop
O filme não é incrivelmente bem elaborado no que tange a sua roteirização e no que diz respeito à representação da carreira de Marie Curie. Tal fato é quase difícil de não ser observado em cinebiografias, que tentam condensar uma carga exorbitante de informações da vida do personagem principal em poucas horas de duração. No entanto, essa obra tem seu valor simbólico, uma vez que busca retratar a vida de uma das maiores cientistas do mundo, colocando em evidência a importância de suas descobertas e os desafios que a mulher enfrenta, seja no mundo acadêmico, profissional, no passado ou no mundo contemporâneo.
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Esse texto foi escrito por Bruno Alves De Oliveira Fernandes, aluno do 3º ano do curso técnico integrado em Comunicação Visual, sob a orientação e revisão da professora Dra. Lícia Frezza Pisa
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